O COBERTOR DE PAPA
UM ECOSSISTEMA EM PERIGO DE EXTINÇÃO
O cobertor de papa é um cobertor feito com de lã churra. É atualmente um produto típico da região da Guarda, apesar de, antigamente, ter sido produzido por toda a encosta raiana da Serra da Estrela e Cova da Beira, incluindo os concelhos da Guarda, Manteigas, Covilhã e Fundão.
Os cobertores de papa artesanal são conhecidos pelo seu pelo comprido, pelo cheiro característico, bem como por serem pesados, quentes, densos e felpudos. Estes antigamente eram utilizados por campinos, pastores, bem como utilizados para aquecer as camas durante as noites gélidas do inverno, atualmente são usados mais para decoração apesar de algumas incursões no domínio da moda.
Não se sabendo exatamente a origem do cobertor de papa, consta que um tecelão da Covilhã terá fixado residência pela região da Guarda e terá transmitido os seus conhecimentos aos habitantes locais.
A sua produção integra-se no espaço amplo, rico de diversidades e de complementaridades naturais e culturais que o distrito da Guarda constitui, entendido como uma realidade administrativa, ancorada pela tutelar presença da Serra da Estrela. Esta foi, desde os tempos pré-históricos, lugar de destino de pastores e rebanhos e começo e fim de algumas das mais importantes rotas peninsulares da lã [rota da lã], abertas pelas vias da transumância.
O cobertor de papa, para além do valor patrimonial e histórico, representa o respeito pelas tradições e é uma forma de homenagem a todos quantos tiveram uma vida difícil, cheia de esforços, caminhadas, vivendo semanas separados da família, trabalhando muito, por pouco dinheiro.
Sendo uma tradição e um saber ancestral, o cobertor de papa constitui, não só um elemento fundamental da identidade local e regional, como também, um elemento central para a preservação das raças autóctones (ovelhas churras) que fornecem a matéria-prima e que se encontram, atualmente, em risco de extinção.
Mas, sendo genuinamente artesanal, o cobertor de papa constitui também um produto cada vez mais valorizado nos mercados urbanos e globais e, por envolver várias etapas e entidades na sua produção, poderá constituir um elemento relevante para o desenvolvimento local, quer por via da criação direta de emprego, quer por um efeito multiplicador resultante de sinergias criadas com setor turístico.